Pré-socráticos e o Surgimento da Filosofia
Nessa aula iremos abordar uma introdução a Filosofia e na sequência falaremos sobre os Pré-socráticos e o Surgimento da Filosofia . Para um bom início de estudos, devemos compreender que a Filosofia é uma atividade humana que vem sendo desenvolvida há muitos séculos, perfazendo milênios; nesse sentido, cabe delimitar seus principais períodos. Embora variável, sua periodização pode ser eficientemente feita da seguinte maneira:
Período | Duração |
Filosofia Antiga | séc. VI a.C. ao VI d.C. |
Filosofia Patrística | séc. I ao VIII d.C. |
Filosofia Medieval | séc. VIII ao séc. XIV |
Filosofia da Renascença | séc. XIV ao séc. XVI |
Filosofia Moderna | séc. XVII a meados do séc. XVIII |
Filosofia da Ilustração ou Iluminismo | meados do séc. XVIII ao início do séc. XIX |
Filosofia Contemporânea | meados do séc. XIX aos dias de hoje |
Abaixo segue as videoaulas desse artigo:
Aula 1 – Formas de Conhecimento
Aula 2 – Pré-socráticos (parte 1)
Aula 3 – Pré-socráticos (parte 2)
Aula 4 – Pré-socráticos (parte 3)
Pré-socráticos e o Surgimento da Filosofia
Etimologicamente, a palavra filosofia é formada por dois termos gregos: filos, que significa uma forma de amor, e sofia, que significa sabedoria. Atribui-se sua criação ao filósofo pré-socrático Pitágoras de Samos que, quando perguntado pelo príncipe Leonte a respeito da natureza de seu conhecimento, respondeu ser um “filósofo”. Com o decorrer do tempo, filosofia passou a designar um tipo específico de saber, que busca o conhecimento através do uso metódico da razão, diferenciando-se das explicações estabelecidas pelos mitos.
Pré-socráticos e o Surgimento da Filosofia
Pitágoras
O que é mito?
A palavra mito vem do grego mythos, significando narrativa, conto ou relato fabuloso. Recorrentes em todas as sociedades, os mitos e lendas de uma civilização ou cultura em seu conjunto são chamados de mitologia. Os mitos, possuindo a dupla função de explicar a realidade – especialmente em termos de origens – e normatizar relações de poder, não desaparecem com o surgimento da Filosofia. Acredita-se que os primeiros registros da mitologia grega datam do séc. VIII a.C.: os textos épicos Ilíada, que narra a Guerra de Troia, e Odisseia, que relata no retorno de Ulisses a Ítaca após essa guerra, ambos de (suposta) autoria do poeta Homero.
Os mitos são tentativas de tornar mais compreensível o mundo, desempenhando também um papel moralizante no interior das sociedades. Geralmente, tratam de um tempo “primordial”, isto é, estão voltados à explicação de princípios e origens, da CRIAÇÃO do que se queira saber. Seu domínio pode incluir deuses, seres agigantados, bem como a personificação de forças naturais, dentre outros conteúdos fantasiosos, alegóricos.
Sua relevância, no sentido da construção de segurança na mente humana quanto aos fatos do mundo natural, é atualmente indiscutível. Entretanto, os mitos carecem, segundo critérios posteriores de conhecimento, de conteúdo lógico: não raro, as narrativas míticas apresentam contradições, incongruências, ilogicidades, por causa de seu caráter fantástico, assistemático e acrítico.
O mito é uma “verdade” estabelecida socialmente e que não necessita de provas.
Condições históricas para o nascimento da filosofia
O truque da Filosofia é começar por algo tão simples que ninguém ache digno de nota e terminar por algo tão complexo que ninguém entenda.
Bertrand Russell
Pré-socráticos e o Surgimento da Filosofia
A Filosofia é geralmente considerada a primeira tentativa racional de conhecimento, uma vez que utiliza o rigor lógico em seus processos. Também porque adota a reflexividade (pensar a respeito das capacidades e limites do próprio pensamento) na busca pela explicação do universo, contrastando com a ilogicidade dos mito.
A Filosofia se expressa por meio do “logos”, que significa discurso racionalmente articulado – colocando-se, assim, “mythos” e “logos” em relação de antagonismo.
A busca pelo conhecimento é uma constante da existência humana, desde tempos primitivos. Sendo assim, por que justamente na Grécia vem a surgir esse tipo diferenciado de busca, mais reflexivo, racional?
O despontar da Filosofia naquela parte do planeta – chamado muitas vezes de “milagre grego” obedece a condições históricas que os gregos reuniram e que os fizeram, social, política e culturalmente diferentes de outras civilizações, anteriores ou posteriores. A Filosofia se vincula, fundamentalmente, ao surgimento da pólis, a cidade-estado grega, e a consequente efervescência política e cultural nesses meios urbanos: à pólis é necessário o incremento da palavra, do discurso racional, para a organização da vida e das relações em geral, sobretudo em Atenas, cidade que será a “oficina” das maiores produções filosóficas do mundo Antigo. Além da vida urbana e sua atividade política, outros fatores colaboram com o desenvolvimento da Filosofia:
– as viagens marítimas
– a escrita alfabética
– o calendário
– a moeda
A Filosofia Antiga
Período pré-socrático ou cosmológico (fim do séc. VII a.C. ao fim do séc. V a.C.)
Os primeiros filósofos são conhecidos como pré-socráticos. Nessa fase, a filosofia trata especialmente das origens do mundo e das transformações da natureza – a physis. Busca-se um princípio constitutivo da realidade, a arché. O pensamento pré-socrático desdobra-se em algumas “escolas” filosóficas, e delas farão parte importantes pensadores, sendo as principais:
Escola Jônica: Tales de Mileto, Anaxímenes de Mileto, Anaximandro de Mileto e Heráclito de Éfeso.
Escola Itálica: Pitágoras de Samos, Filolau de Crotona e Árquitas de Tarento.
Escola Eleática: Parmênides de Eleia e Zenão de Eleia.
Escola da Pluralidade: Empédocles de Agrigento, Anaxágoras de Clazômena, Leucipo de Abdera e Demócrito de Abdera.
O primeiro filósofo
Mesmo sendo considerado o possível inventor da palavra Filosofia, não é exatamente Pitágoras de Samos o primeiro a pensar e produzir explicações nesse formato racional. Na verdade, o mais antigo pensador nesse sentido é Tales de Mileto (624-546 a.C.?). Tales inaugura o chamado pensamento “pré-socrático”, sendo o primeiro de muitos homens que passam a investigar as origens do mundo e das transformações da natureza sem o emprego de aspectos sobrenaturais. Em outras palavras, Tales de Mileto opera a passagem do mito à Filosofia.
Conhecido por descobertas na área da matemática, diz-se que Tales consagrou-se por ter feito a previsão de um eclipse, por volta de 585 a.C. Essa informação é reveladora de um importante aspecto de sua mentalidade, qual seja, o valor conferido à observação da natureza. Segundo Tales, toda a realidade é formada por uma arché, termo grego que significa substância primária, elementar; e, de acordo com ele, essa substância é a água.
QUEM FOI TALES? Tales de Mileto foi o primeiro filósofo ocidental de que se tem notícia. Considerado um dos sete sábios da antiguidade e também o pai da filosofia , Tales preocupou-se em entender e explicar o universo, em vez de simplesmente curvar-se diante de seus mistérios. Segundo alguns historiadores, Tales foi comerciante, o que lhe rendeu recursos suficientes para dedicar-se a suas pesquisas. Tales provavelmente viajou para o Egito e a Babilônia, entrando em contato com astrônomos e matemáticos. Depois de aposentado, passou a dedicar-se à matemática, estabelecendo os fundamentos da geometria. Adaptado de:
Tales
Pré-socráticos e o Surgimento da Filosofia
A principal característica desse tipo de pensamento é a procura por um elemento natural para a explicação do mundo natural, o que quer dizer que, gradativamente, a ideia de forças sobrenaturais compondo o mundo vai dando lugar à confiança nos dados que os sentidos apreendem na relação do ser humano com o mundo.
Já para seus seguidores Anaximandro (610-547 a.C.) e Anaxímenes (588-524 a.C.) de Mileto, a arché seria o ápeiron (“o indeterminado”) ou o ar, respectivamente.
Por outro lado, o já citado Pitágoras de Samos (570-490 a.C.), complexificando as investigações filosóficas, acredita serem os números a essência de todas as coisas; o pitagorismo assemelha-se a uma seita religiosa, que busca na exatidão matemática a harmonia no mundo e defende a imortalidade da alma e a reencarnação.
Pré-socráticos e o Surgimento da Filosofia
Movimento ou permanência?
O primeiro grande conflito de ideias na história da Filosofia ocorreu ainda no período pré-socrático, por volta do século VI a.C., envolvendo Heráclito de Éfeso (535-475 a.C.) e Parmênides de Eleia (530-460 a.C.).
De acordo com Heráclito, a realidade do mundo é algo dinâmico, em constante movimento de transformação. Assim, a vida seria um constante fluxo – chamado devir, ou “vir a ser” – movido pela luta de forças contrárias, como o bem e o mal, o belo e o feio, a justiça e a injustiça, etc. A Heráclito se atribui a afirmação de que “não podemos entrar duas vezes no mesmo rio”.
Heráclito
Pré-socráticos e o Surgimento da Filosofia
Segundo Parmênides, no entanto, a reflexão racional a respeito da realidade, guiada mais pela mente do que pelos sentidos, leva ao entendimento de que tudo é eterno, único, imóvel e infinito. Dessa forma, as coisas só mudariam quanto às aparências, ou seja, a percepção da mudança não passaria de ilusão. Atribui-se a Parmênides a afirmação de que “o ser é; o não-ser não é”. Essa afirmação pode ser lida do seguinte modo: “tudo o que existe sempre existiu e sempre existirá, nada pode ser criado”. Nega, portanto, a ideia do “vir a ser” de Heráclito.
Parmênides
Pré-socráticos e o Surgimento da Filosofia
A imagem abaixo ajuda a localizar os pensadores pré-socráticos no mundo grego
A Pluralidade
Empédocles de Agrigento (490-430 a.C.): procurou conciliar a oposição entre Heráclito e Parmênides, sustentando a existência de quatro elementos primordiais – fogo, terra, água e ar – que se atrairiam pelo amor, criando as coisas do mundo, ou se repeliriam pelo ódio, desagregando-se.
Pré-socráticos e o Surgimento da Filosofia
O Atomismo
Segundo Demócrito de Abdera (460-370 a.C.), seguindo uma linha de pensamento inaugurada por Leucipo, a realidade seria formada por partículas invisíveis e indivisíveis, que se moveriam no vácuo – os átomos; a aglomeração de certos átomos e a repulsão de outros seriam ocasionadas pelo acaso.
Autor: Texto Elaborado pelo nosso Prof. Demétrius Ávila (Curso Gênio)